Poesia de Gióia Júnior
Manhã, clara manhã de sol
rompendo as brumas,
como um barco vermelho a singrar entre espumas...
Campo de Luta. O sol é um gladiador selvagem
e tinge com seu sangue a sombra da paisagem...
Jesus, depois de orar a noite inteira, envolto
em manto singelo, o cabelo revolto,
a barba em desalinho, as sandálias manchadas
pelo vermelho pó das longas caminhadas,
ensinava no templo apresentando ao povo
a larga nitidez de um horizonte novo...
A estrada do porvir, imensa, inatingida,
a nova Canaã, a Terra Prometida,
que Moisés procurou no meio do deserto,
parecia tão longe e estava ali tão perto!
Ele era a porta aberta, o ensinamento, o exemplo...
Nisto um bando sinistro avança pelo Templo,
escribas, fariseus, num cínico mister:
- Prendamos a Jesus, matemos a mulher! ...
Em meio ao burburinho uma jovem bonita,
pálida, maltratada, atirada e maldita
pela lei de Moisés, esperava a sentença,
"o prêmio do pecado", a negra recompensa
de um ilícito amor. Envergonhada e muda,
aguardava o suplício, a pedra pontiaguda
que em seu corpo moreno, em ferida medonha
selaria a desgraça, o martírio, a vergonha...
Depois, a treva imensa e um corpo ensanguentado
expostos para exemplo: "o prêmio do pecado".
Fora presa em seu leito imundo e deletério
no instante em que a paixão se fizera adultério.
No intenso vozerio, uma voz se levanta:
- Jesus de Nazaré, que dizes desta santa?!
Merece a maldição que nossa lei ensina,
ou merece o perdão que é da tua doutrina?...
Jesus indiferente, alheio à multidão,
abaixa-se a escrever com o dedo no chão.
Depois, ergue-se altivo, os olhos vivos, a alma
profundamente clara, imensamente calma,
e destrói a pergunta em um único brado:
- Lance a primeira pedra o que não tem pecado!
Abaixa-se de novo o Pai dos Evangelhos
e o povo se dispersa, a partir dos mais velhos.
Só Jesus e a mulher. O perdão e o pecado,
a negra escuridão e o dia iluminado...
A humilde pecadora aguarda comovida
o fim que lhe daria o que lhe dera a vida...
- Ninguém te condenou? - pergunta o Nazareno.
- Ninguém, Senhor, ninguém.
- Pois nem eu te condeno.
E, erguendo meigamente os olhos paternais,
falou: - Podes partir. Mulher, não peques mais!!!
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